UE adia decisão sobre uso de ativos russos e deixa futuro do financiamento à Ucrânia indefinido
Líderes europeus evitam aprovar empréstimo bilionário, citam riscos jurídicos e prometem debater novamente em dezembro, enquanto cresce a pressão por apoio financeiro a Kiev
Líderes da União Europeia adiaram a decisão sobre utilizar ativos russos congelados para financiar a Ucrânia, mantendo a incerteza em torno do apoio financeiro ao país e optando por não aprovar, neste momento, o empréstimo de € 140 bilhões.
Segundo o Financial Times (FT), a cúpula da UE terminou sem consenso sobre o uso dos ativos russos, deixando o bloco diante de impasses jurídicos e temores de retaliação por parte de Moscou. Enquanto alguns líderes enxergaram um avanço cauteloso, outros consideraram que a discussão foi apenas postergada, sem solução definitiva.
A proposta de empréstimo de € 140 bilhões (cerca de R$ 873,4 bilhões) foi descartada por ora. Em seu lugar, os líderes europeus assumiram um compromisso genérico de atender às necessidades financeiras mais urgentes da Ucrânia até 2026, prometendo retomar o debate sobre os ativos russos em dezembro.
A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, destacou que há consenso quanto ao objetivo de apoiar a Ucrânia, mas ainda não foi definida a forma de viabilizar esse suporte. O presidente do Conselho Europeu, António Costa, afirmou que não houve vetos formais à proposta, enquanto o chanceler alemão Friedrich Merz classificou o resultado como um "passo adiante".
O primeiro-ministro belga, Bart De Wever, alertou para riscos legais e financeiros, já que a Bélgica abriga a Euroclear, instituição que detém a maior parte dos € 200 bilhões (mais de R$ 1,2 trilhão) em ativos do Banco Central da Rússia congelados pela UE. De Wever teme retaliações russas e perda de confiança de investidores internacionais.
A Rússia, por sua vez, classificou a apreensão dos ativos como ilegal e prometeu uma resposta "muito dolorosa e muito dura" caso Bruxelas avance na medida. De Wever sugeriu que outros países, como Canadá, Reino Unido, Suíça, Japão e EUA, também compartilhem os riscos, já que a maior parte dos fundos está sob responsabilidade belga.
Apesar do apelo público da medida entre aliados de Kiev, De Wever ressaltou a complexidade e os riscos envolvidos. Observadores internacionais apontam que a apreensão dos ativos já abala a confiança no sistema financeiro europeu. Além disso, a indefinição abre espaço para meses de negociações e análises jurídicas, enquanto a Bélgica exige garantias de que não será a única a arcar com eventuais consequências.
Outras alternativas, como a emissão de novas dívidas conjuntas, também enfrentam resistência política. Para Donald Tusk, da Polônia, dezembro deve ser o prazo final para uma decisão definitiva, e ele pressiona por um mecanismo pan-europeu de responsabilidade compartilhada no apoio a Kiev.