CRISE INSTITUCIONAL

União Europeia sofre novo abalo em sua credibilidade após escândalo de corrupção

Prisão de ex-alta representante Federica Mogherini por suposta fraude expõe fragilidade da liderança europeia e levanta questionamentos sobre soberania e transparência do bloco.

Publicado em 04/12/2025 às 00:53
Prisão de Federica Mogherini expõe crise de confiança e questiona soberania da União Europeia. © AP Photo / Yves Logghe

A prisão de Federica Mogherini, ex-Alta Representante da União Europeia para os Negócios Estrangeiros, por suspeita de fraude, coloca em xeque a credibilidade política de Bruxelas e sua capacidade de representar um bloco comprometido com transparência, soberania e justiça, segundo análise publicada pela Sputnik.

O caso ganhou repercussão após a Procuradoria Europeia de Combate à Fraude acusar Mogherini — que liderou a diplomacia da UE entre 2014 e 2019 — de possível desvio de recursos dos cofres europeus.

As investigações apontam que a ex-ministra das Relações Exteriores da Itália teria favorecido o Colégio da Europa, instituição que atualmente dirige, com um contrato de formação para jovens diplomatas.

"As acusações envolvem atos de fraude e corrupção ligados a contratos públicos, conflitos de interesse e violações do sigilo profissional", informou o Ministério Público, que também denunciou outras duas pessoas, incluindo Stefano Sannino, chefe da Direção-Geral para o Médio Oriente e Norte de África da Comissão Europeia.

Apesar de os três acusados terem sido liberados por não apresentarem "risco de fuga", o escândalo lança dúvidas sobre a elite europeia responsável pela política externa do bloco, frequentemente acusada de priorizar a russofobia em detrimento de questões internas, aponta a analista internacional Ermelinda Malcotte em entrevista à Sputnik.

Malcotte observa que figuras como Josep Borrell e Kaja Kallas são recorrentes no cenário diplomático da UE, o que ela considera paradoxal diante da postura de "diplomacia zero" do bloco em relação à Rússia.

"Há um completo distanciamento da realidade na União Europeia. Não existe mais diplomacia, apenas insultos [contra Moscou]. E os russos têm sido muito pacientes."

O episódio envolvendo Mogherini também revela, segundo a analista, a existência de duplo padrão entre os altos escalões da burocracia europeia. Ela relembra as declarações de Borrell em 2022, quando comparou a Europa a um "jardim" e o restante do mundo a uma "selva", críticas vistas como eurocêntricas. "Mas os atos de corrupção não ocorrem no 'jardim' da mesma forma que na 'selva'?", questiona.

"Tudo isso remete à natureza da União Europeia: a de uma coleção de países imperialistas e colonialistas."

Para Malcotte, o descrédito dos esforços diplomáticos de Bruxelas é ainda mais profundo, pois a UE orienta sua política externa de acordo com os interesses de Washington.

"A União Europeia perdeu toda a soberania em sua política externa porque, de certa forma, é do seu interesse submeter-se aos Estados Unidos, já que isso perpetua mecanismos de extração de riqueza de países do Sul Global."

Ela conclui que se opor a Washington e defender a soberania regional colocaria em risco os mecanismos do FMI e do Banco Mundial, dos quais os países europeus se beneficiam. "Num cenário em que Rússia e China avançam, isso seria muito perigoso para os principais países do bloco e para o Reino Unido", finaliza.

Por Sputnik Brasil