Confúcio critica desigualdade: 'CEP ainda define tamanho da cidadania'
Senador alerta para exclusão de comunidades ribeirinhas, indígenas e periféricas e defende políticas públicas inclusivas
Em discurso no Plenário nesta segunda-feira (1º), o senador Confúcio Moura (MDB–RO) chamou a atenção para o que definiu como o “Brasil que tem CEP”, uma metáfora para a desigualdade territorial que, segundo ele, ainda determina o acesso — ou a falta dele — a direitos básicos no país. O parlamentar afirmou que o Código de Endereçamento Postal (CEP) segue funcionando, na prática, como marca de privilégio ou exclusão.
“Hoje, o CEP ainda define o tamanho da cidadania da pessoa, e é essa uma ferida que não fecha”, declarou.
Confúcio criticou a crescente distância entre as necessidades da população e aquilo que de fato é entregue pelo Estado. Ao visitar municípios de Rondônia, comunidades ribeirinhas e aldeias indígenas, o senador relatou encontrar “brasileiros completos, dignos trabalhadores, mas que recebem do Estado apenas algumas migalhas, como se vivessem em regiões sem CEP”. Para ele, o abandono territorial cria cidadãos de “primeira e segunda categoria”, situação que não pode ser naturalizada.
O parlamentar destacou a urgência de fazer com que as políticas públicas cheguem efetivamente às regiões mais remotas do país. Ao mencionar jovens indígenas com sede de conhecimento, Confúcio celebrou a criação da nova universidade destinada aos povos originários.
“É uma homenagem extremamente gratificante, uma homenagem grandiosa para o povo brasileiro como um todo, porque, se analisarmos a genética nossa, nós vamos ver que essa mestiçagem brasileira é composta de sangue europeu, de genes europeus, indígenas, negros, e nós somos, antes de tudo, mestiços. Essa mestiçagem é que dá essa beleza ao povo brasileiro”, afirmou.
O senador também citou agricultores, famílias periféricas e mães que lutam diariamente para garantir estudo e alimentação aos filhos, mesmo diante de estradas precárias e ausência de serviços básicos. Para ele, essas pessoas “não pedem favor”, mas sim justiça, presença do Estado e reconhecimento.
“Elas pedem que o Brasil olhe para elas com o mesmo respeito com que olha para qualquer grande centro urbano, aqueles que têm um CEP diferenciado e especial”, disse.
Defendendo que modernização significa inclusão e não apenas tecnologia, Confúcio frisou que o país precisa garantir coerência, previsibilidade e oportunidades reais para os jovens.
“Eu já ouvi muitas promessas de modernização durante toda a minha vida, mas aprendi que modernizar não é importar máquinas, é incluir pessoas. Isso que é modernização. É garantir que ninguém fique para trás. Esse é o grande objetivo. O que um jovem brasileiro quer não é milagre, ele quer coerência, previsibilidade, oportunidade real. É saber que se ele estudar, se ele trabalhar, se ele fizer a parte dele, o Estado também fará a sua parte”, pontuou.
O senador ainda ressaltou que nenhuma nação será soberana enquanto parte da população continuar invisibilizada.
“A Amazônia não será protegida enquanto os amazônidas forem esquecidos. O Brasil não será integrado enquanto o brasileiro for dividido pelo CEP, e a esperança não voltará enquanto o Estado não voltar para perto das pessoas”, concluiu.
Camily Oliveira, sob supervisão de Patrícia Oliveira