O caminho à glória de uma instituição quase bicentenária passa pelas mãos daqueles que dedicaram anos de suas vidas ao serviço policial militar. Homens e mulheres, que abdicaram de privilégios e confortos para enfrentar uma jornada de trabalho longe da família e daqueles que amam. Foram incontáveis serviços patrulhando e salvaguardando a vida do povo alagoano. Porém, a marcha do tempo conduziu a jornada desses combatentes a um merecido descanso.
Os veteranos são aqueles militares que se encontram na condição de Reserva Remunerada (R/R) e reforma por atingirem o limite de idade ou o tempo máximo de efetivo serviço na Polícia Militar. Nesta fase, sentimentos antes inimagináveis tomam conta do coração desses policiais. A saudade agora é da rotina nos quartéis, das vivências peculiares ao militarismo, dos momentos de descontração com os companheiros de batalhão e das experiências vividas nas ruas. A adaptação à nova realidade vem com uma série de desconfianças, como o receio de ver décadas de contribuição caírem no esquecimento.
Para reconhecer os esforços e valorizar a caminhada desses combatentes, o então governador de Alagoas, Renan Filho, sancionou, em julho de 2020, a Lei nº 8.276 oficializando o Dia do Veterano. A data é celebrada todo 13 de março e tem como objetivo reforçar a importância desses militares na história da Briosa. Além disso, o atual comando da Corporação vem desenvolvendo uma série de ações para fortalecer a valorização aos policiais que estão na condição de inatividade. As medidas passam pela criação de uma mentalidade de respeito e gratidão àqueles que pavimentaram o caminho para a corporação chegar até aqui.
Memórias preservadas e cuidados com a saúde
Desde a incorporação, os novos militares já têm contato com a importância dos veteranos para a Instituição. Uma medida do coronel Paulo Amorim incluiu a disciplina “Valorização ao Veterano” em todos os cursos de formação e habilitação promovidos pela Polícia Militar de Alagoas. O intercâmbio de experiências acontece através de palestras e materiais didáticos pensados e executados para aproximar os antigos combatentes dos futuros militares da Corporação. Além disso, a atual gestão implantou um ato simbólico de reconhecimento a esses militares. Antes de todos os eventos organizados pela PMAL, os veteranos presentes no local recebem as honras militares de todos os policiais, por meio de uma continência comandada pelo oficial mais antigo e o som do exórdio musical.
As medidas vão além do simbolismo. Ações práticas foram coordenadas para garantir a saúde e o bem-estar de militares que se encontram na inatividade. O Centro Integrado de Assistência (CIA) disponibiliza diversas atividades voltadas à saúde mental e lazer dos veteranos. Dentre as medidas, está uma oficina de adaptação à reserva remunerada. Nela, os profissionais do Centro preparam os militares que irão ingressar à inatividade. As atividades em grupo ajudam os militares no processo de desaceleração e adaptação à nova rotina que os aguarda. Além disso, os policiais podem ter acesso gratuito aos serviços de psicologia, que funcionam de segunda à sexta-feira das 7h às 13h na sede do CAS. Os militares ainda têm direito a aulas semanais de meditação, que ocorrem às quartas sempre às 10 horas. Os serviços ficam localizados na sede do Centro de Assistência Social, no bairro Pitanguinha, em Maceió
O Centro Hospitalar da PMAL também executa atividades voltadas aos veteranos da corporação. Desde 2022, o CHPM desenvolve um projeto de prevenção e cuidados médicos para os inativos. Intitulado de “Pmais Saúde Veteranos”, a ação presta assistência médica através de uma busca ativa nas residências desses policiais. As visitas são feitas por uma equipe multidisciplinar formada por médicos, enfermeiros, fisioterapeutas, assistentes sociais e psicólogos. De acordo com o Diretor de Saúde da PM, coronel Silvio Brito, o Centro Hospitalar realiza em média dez visitas ao longo do dia. Dentre os serviços ofertados estão a aferição da pressão arterial, a troca de curativos e suporte psicológico.
O comandante-geral da PM, coronel Paulo Amorim, destaca o papel fundamental desses militares para a instituição. “Não existe presente sem passado, nem futuro sem presente. Os senhores são peças imprescindíveis na gloriosa história da Briosa e sempre serão prioridade de nosso comando. As ações práticas e as homenagens estarão sempre presentes enquanto eu estiver aqui. Um dia, nós também estaremos nessa posição, portanto, devemos fortalecer cada vez mais a mensagem de valorização aos senhores e senhoras, que tanto contribuíram para nossa PM-AL.”, reforçou o comandante.
Do sonho à realidade: uma caminhada inesquecível
De acordo com dados fornecidos pela Diretoria de Proteção Social da PM referentes ao mês de fevereiro de 2024, mais de 6.200 policiais se encontram na condição de inatividade. Dentre eles, está a subtenente da reserva remunerada Sílvia Oliveira. Hoje com 53 anos, ela dedicou mais de 26 anos de sua vida à atividade policial. A militar despediu-se do serviço ativo no ano de 2019 e lembra dos primeiros passos dados para a realização de um sonho. Foi em um desfile, lá em 7 de setembro de 1990, que ela vislumbrou um desejo que se tornou uma realidade concreta, recheada de aprendizados e momentos inesquecíveis.
“Eu estava assistindo um desfile da Independência e vi aqueles policiais desfilando. Parei e mentalizei que um dia estaria vestindo aquela farda. Então, no ano seguinte fiz o concurso público e consegui passar. Fiz parte da turma que se iniciou no ano de 1992. Desde então, amadureci muito e aprendi a lidar com várias situações que não seriam possíveis de vencer se eu não estivesse na PM”, recorda.
A subtenente R/R Sílvia lembra com descontração dos momentos vividos ao longo de sua trajetória e agradece os vínculos que fez pelo caminho. “Assim que me formei fui para o 3º Batalhão. Lá, eu aprendi a ser polícia. Foi um desafio imenso, já que fomos para o Interior sem conhecer ninguém. Quando voltei para Maceió fiquei um tempo no Batalhão Escolar. Além das atividades em colégios, tive muitas escalas em jogos de futebol, festas juninas, festivais, carnavais, shows entre outras. Encerrei minha carreira militar na Academia de Polícia. Na APM, ocupei diversas funções e cheguei até a comandar o rancho dos cadetes. Todos me tratavam com muito respeito e carinho, pois eu era a única mulher de lá. Agora ficam as recordações, os momentos alegres e o sentimento de dever cumprindo”, relembra a combatente.
Cinco anos antes de Sílvia, teve início a trajetória de outro militar que ostenta o orgulho de ter vestido a farda da PMAL. Hoje na reforma, o subtenente Charles de Lima conta que passou grande parte da sua carreira no Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope). Hoje, com 56 anos de idade, rememora suas três décadas de serviços prestados à Briosa. Soldado da turma de 1987, o militar logo se identificou com a rotina de treinamentos e preparação do batalhão de elite da PMAL.
“Assim que saí do CFAP fui direto para a Companhia de Choque do Bope. Foi lá que aprendi tudo que sei sobre ser policial militar. Tenho muito orgulho de também ter sido um dos idealizadores do Canil da Polícia Militar. Foram muitas ocorrências e ensinamentos vividos ao lado de companheiros um pouco “diferentes”. Os cães faziam parte de toda a nossa rotina de serviço, ajudando a apreender diversos ilícitos e elucidar crimes de repercussão. Faz cinco anos que eu estou em casa, com muita saúde e orgulho de ter uma Instituição que valoriza aqueles que fizeram parte da sua história”, destacou o veterano.
Desde o ano de 2023, a Instituição promove uma formatura militar em homenagem a todos os veteranos e veteranas da Corporação. A ação ocorre no mês de março e é uma forma de valorizar a memória e a caminhada daqueles que como diz o texto bíblico, “combateram o bom combate e guardam a fé”.