Papa elogia movimentos sociais e defende luta por terra, casa e trabalho
Leão XIV ecoou Francisco em um de seus discursos mais incisivos
Em um discurso passional que ecoou o pontificado de Francisco, o papa Leão XIV afirmou nesta quinta-feira (23), em audiência com movimentos populares do mundo todo, que terra, casa e trabalho são "direitos sagrados" e alertou que a Igreja Católica deve ser voltada para os pobres.
O pontífice americano, que lembrou ter escolhido o nome papal em homenagem a Leão XIII, autor da encíclica "Rerum Novarum", pilar da doutrina social do catolicismo, ainda rebateu a tese de que lutar por elementos básicos seria algo "ultrapassado" no contexto atual.
"Fazendo eco aos apelos de Francisco, hoje eu digo: terra, moradia e trabalho são direitos sagrados pelos quais vale a pena lutar, e quero que vocês me ouçam dizer: 'Estou com vocês!'", afirmou Robert Prevost, que fez um dos discursos mais incisivos em pouco mais de cinco meses de pontificado.
Os grupos presentes na audiência, incluindo o brasileiro Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), receberam as declarações de Leão XIV com longos aplausos, em um evento que deu sequência ao diálogo iniciado por Jorge Bergoglio há mais de 10 anos.
"Aqueles que têm segurança financeira e uma casa confortável podem considerar essas reivindicações um tanto ultrapassadas. As coisas verdadeiramente 'novas' parecem ser os veículos autônomos, roupas da moda, celulares de última geração, criptomoedas. Das periferias, porém, as coisas parecem diferentes", acrescentou o Papa.
O pontífice ainda elogiou a atuação dos movimentos populares, que buscam "soluções em uma sociedade dominada por sistemas injustos", e os chamou de "poetas sociais", expressão já usada por Jorge Bergoglio.

"Hoje, vocês carregam mais uma vez a bandeira da terra, do lar e do trabalho, testemunhando a vitalidade dos movimentos populares como construtores de solidariedade na diversidade. A Igreja precisa estar com vocês: uma Igreja pobre para os pobres, uma Igreja que estende a mão, uma Igreja que assume riscos, uma Igreja corajosa, profética e alegre", salientou.
No encontro, Leão XIV declarou que promover ações de caridade em prol de grupos marginalizados, como "alimentar os famintos, abrigar os desabrigados, resgatar náufragos, cuidar das crianças, criar empregos e construir casas", não significa "fazer ideologia", mas sim "viver verdadeiramente o Evangelho".
Em outra passagem do discurso, o Papa apontou a desigualdade como "raiz dos males sociais" e criticou a "indiferença estrutural que não leva a sério o drama de povos espoliados, roubados, saqueados e forçados à pobreza".