ENTREVISTA

Barroso: “Apliquei a jurisprudência a Lula, com dor no coração”

Ministro do STF relembra voto que levou à prisão do presidente em 2018 e afirma que decisão foi cumprimento de dever, não ato pessoal

Por Redação Publicado em 28/09/2025 às 10:24

O ministro Luís Roberto Barroso, presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), concedeu entrevista à colunista Mônica Bergamo, da Folha de S.Paulo, em que falou sobre sua relação com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e relembrou o voto de 2018 que contribuiu para a prisão do petista no âmbito da Operação Lava Jato.

Barroso destacou a personalidade carismática de Lula, a quem recebeu em sua casa logo após a eleição presidencial, em 2002, antes da posse. “O presidente tem uma capacidade de convencimento que advém da autenticidade dele. Minha sogra, que não simpatizava com ele, virou fã em dez minutos de conversa”, contou.

Questionado se se arrependia do voto que levou Lula à prisão, o ministro foi enfático: “Absolutamente. O meu voto não teve nada a ver com o presidente Lula. A vida de um juiz exige decisões que são pessoalmente difíceis. Apliquei, com dor no coração, a jurisprudência que eu mesmo tinha ajudado a criar. Foi um dever de integridade com a minha função”.

Na entrevista, Barroso ressaltou que, à época, não havia as suspeições sobre a Lava Jato que vieram à tona anos depois. Reconheceu, entretanto, que a operação, embora tenha revelado “um país feio e desonesto na maneira de se fazer política e negócios”, terminou se perdendo “nos excessos” e acabou politizada.

“O que aconteceu é que, a partir de determinado momento de grande sucesso, os procuradores acharam que estavam voando. E na vida real não tem rede: quando se acredita demais na própria ilusão, a queda é inevitável”, afirmou.

Ao final, o ministro disse acreditar que Lula compreende o papel de um juiz que apenas aplicou a lei igualmente. “Sempre tive a esperança de que o presidente entendesse que eu cumpri honestamente o meu dever.”