COMÉRCIO EXTERIOR

Haddad critica tarifas dos EUA e defende fim de restrições comerciais unilaterais em carta ao FMI

Ministro da Fazenda afirma que barreiras comerciais prejudicam o crescimento global e reforça compromisso do Brasil com metas de inflação e ajuste fiscal

Publicado em 15/10/2025 às 14:24
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad © telegram SputnikBrasil / Acessar o banco de imagens

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, defendeu o fim das restrições comerciais unilaterais e das tarifas de importação impostas por grandes economias, como os Estados Unidos, em carta enviada ao Fundo Monetário Internacional (FMI). O documento foi divulgado nesta quarta-feira (9), durante o encontro de outono do Fundo, em Washington (EUA) — evento do qual o ministro decidiu não participar para se concentrar nas negociações internas sobre o orçamento de 2026 e o impacto da derrubada da medida provisória que previa aumento de impostos.

Na carta, Haddad afirmou que as tensões comerciais e as medidas unilaterais vêm elevando a incerteza global e prejudicando o crescimento de longo prazo. “A remoção de restrições comerciais unilaterais e a restauração de estruturas previsíveis e baseadas em regras são essenciais para salvaguardar o crescimento global”, escreveu. O ministro acrescentou que o reforço da cooperação internacional é fundamental para enfrentar desafios como mudanças climáticas, aumento da desigualdade e níveis elevados de endividamento público.

O Brasil é um dos países mais afetados pelo recente tarifaço promovido pelos Estados Unidos, mas o governo brasileiro tenta avançar em negociações com a administração de Donald Trump para reduzir os impactos sobre a indústria nacional.

Inflação e política monetária

Haddad reconheceu que a inflação no Brasil ainda está acima da meta, o que mantém a política monetária em terreno contracionista, e elogiou a atuação do Banco Central, destacando o “compromisso inabalável” da instituição com o controle inflacionário.

“O núcleo da inflação permanece elevado, apontando para pressões subjacentes persistentes, enquanto as expectativas seguem acima da meta. Dessa forma, a política monetária continua em território contracionista, reforçando o compromisso do Banco Central em reancorar as expectativas”, afirmou.

A defesa do BC no documento contrasta com declarações recentes do próprio ministro, que criticou o atual nível da taxa Selic, de 15%, afirmando que o juro “nem deveria estar nesse patamar”.

Crescimento e cenário fiscal

O ministro destacou que a economia brasileira está próxima de seu potencial, após anos de crescimento acima do esperado, e comemorou o aumento da projeção do FMI para o PIB do Brasil, de 2% para 2,4% em 2025. Ele também citou a queda do desemprego e da desigualdade de renda, que atingiram os menores níveis das séries históricas.

Haddad reiterou que o ajuste fiscal realizado nos últimos anos não se limitou à arrecadação, mas incluiu racionalização de despesas. “Continuaremos a usar a política fiscal como instrumento para promover justiça social e bem-estar, levando em conta o ciclo econômico”, disse.

Por fim, o ministro ressaltou o papel do FMI como peça “insubstituível” da rede de segurança financeira global, mas defendeu que a instituição passe por reformas de governança urgentes para refletir melhor o peso dos países emergentes na economia mundial.