União Brasil articula para tirar PT da presidência do Serpro após rompimento com o governo
Disputa por cargos estratégicos intensifica embate entre União Brasil e PT, enquanto governo promove demissões e negocia apoio para 2026
O União Brasil, que anunciou sua saída do governo Lula em setembro, mantém indicados em cargos estratégicos e agora mira a presidência do Serviço Federal de Processamento de Dados (Serpro), cuja receita líquida chegou a R$ 4,1 bilhões em 2023.
A movimentação nos bastidores envolve uma disputa direta entre uma ala do União Brasil no Senado e o PT, especialmente em meio à ofensiva da ministra de Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, que tem demitido aliados de parlamentares considerados infiéis ao governo no Congresso.
Na contramão desse cenário, Wilton Mota, diretor de Operações do Serpro e apadrinhado pela senadora Professora Dorinha (União Brasil-TO), está próximo de substituir Alexandre Amorim, indicado pelo PT de São Paulo, na presidência da empresa. O Serpro, vinculado ao Ministério da Fazenda, é responsável pela gestão tecnológica do governo federal e será peça-chave na implantação do novo sistema tributário, previsto para testes a partir de janeiro de 2026.
No mês passado, a cúpula do União Brasil chegou a abrir um processo de expulsão, no Conselho de Ética da legenda, contra o ministro do Turismo, Celso Sabino. A medida foi motivada pela recusa de Sabino – escolhido pela bancada da Câmara – em entregar o cargo, sob o argumento de que possui compromissos em andamento. “Quando você fala do primeiro escalão, de um ministério, você não está falando da administração de uma quitanda da esquina. Nada contra as quitandas da esquina, mas a gente tem projetos que estão em andamento”, afirmou o ministro ao Estadão. O orçamento do Ministério do Turismo para este ano é de R$ 3,5 bilhões, valor inferior ao do Serpro.
Por outro lado, aliados do presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP) – como os ministros da Integração, Waldez Góes, e das Comunicações, Frederico de Siqueira Filho – seguem ocupando postos no governo. Alcolumbre, considerado um dos pilares de sustentação do Planalto no Congresso, também manteve indicados em órgãos como a Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf) e nos Correios, entre outros.
Até o momento, cerca de 100 pessoas já foram demitidas pelo governo, por determinação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em bancos públicos, estatais e superintendências federais. A maioria dos atingidos pelo pente-fino era ligada a deputados do Centrão (União Brasil, PP e PSD) e também do MDB, que votaram contra o Planalto e derrubaram a Medida Provisória 1303. Considerada fundamental pela equipe econômica, a MP propunha alternativas para evitar um aumento maior do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF).
Na prática, as demissões têm servido como instrumento de negociação política. O governo já cogita devolver cargos a políticos que se comprometerem com a fidelidade a Lula e sinalizarem apoio ao PT, inclusive em alianças regionais para as eleições de 2026.