Lula alerta para retorno da ameaça militar no cotidiano latino-americano
Presidente critica intervenções externas e defende democracia e integração regional durante encontro internacional na Colômbia
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou neste domingo (9) que "a ameaça de uso da força militar voltou a fazer parte do cotidiano da América Latina e Caribe". A declaração, feita durante a Cúpula Celac-União Europeia em Santa Marta, na Colômbia, é uma referência indireta às recentes ameaças dos Estados Unidos à Venezuela. Lula ressaltou que "democracias não combatem o crime violando o direito internacional".
O governo de Donald Trump, segundo Lula, utilizou o combate ao narcotráfico como justificativa para ampliar a presença militar norte-americana no Caribe. Nos últimos meses, embarcações foram destruídas sob a alegação de envolvimento com o tráfico, resultando na morte de tripulantes.
Em seu discurso, Lula destacou que a América Latina é uma "região de paz" e reiterou o compromisso de manter esse status. "A ameaça de uso da força militar voltou a fazer parte do cotidiano da América Latina e Caribe. Velhas manobras retóricas são recicladas para justificar intervenções ilegais. Somos região de paz e queremos permanecer em paz. Democracias não combatem o crime violando o direito internacional", enfatizou.
O presidente advertiu que a democracia também é ameaçada quando o crime corrompe instituições, esvazia espaços públicos, destrói famílias e desestrutura negócios. Ele defendeu que garantir a segurança é dever do Estado e direito humano fundamental, ressaltando que "não existe solução mágica para acabar com a criminalidade". Lula propôs o enfrentamento ao crime organizado por meio do estrangulamento de suas fontes de financiamento e do combate ao tráfico de armas.
Lula recordou a última reunião da cúpula Celac-União Europeia, realizada há dois anos em Bruxelas, destacando que, desde então, houve retrocessos na integração regional. Ele criticou a falta de coesão entre os países latino-americanos, afirmando: "Voltamos a ser uma reunião dividida" e alertou para as ameaças do extremismo político.
"A América Latina e o Caribe vivem uma profunda crise em seu projeto de integração. Voltamos a ser uma região dividida, mais voltada para fora do que para si própria. A intolerância cria força e vem impedindo que diferentes pontos de vista possam se sentar na mesma mesa. Voltamos a viver com a ameaça do extremismo político, da manipulação da informação e do crime organizado. Projetos pessoais de apego ao poder muitas vezes solapam a democracia", declarou.
O presidente também mencionou a realização da COP30, em Belém, e destacou o Fundo Florestas Tropicais para Sempre (TFFF, na sigla em inglês) como uma solução inovadora para valorizar as florestas em pé. Ele afirmou que a "transição energética é inevitável".
Lula encerrou o discurso lamentando o tornado que atingiu Rio Bonito do Iguaçu, no Paraná, e expressou solidariedade às vítimas da tragédia climática dos últimos dias.