Frase de Lula sobre traficantes enfrenta rejeição até entre lulistas
Declaração do presidente sobre traficantes como 'vítimas dos usuários' é desaprovada por 66% de seus apoiadores, aponta levantamento; repercussão negativa atinge até segmentos de esquerda.
As recentes declarações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva sobre segurança pública foram desaprovadas pela maioria dos eleitores, inclusive entre seus próprios apoiadores. Segundo pesquisa Genial/Quaest divulgada nesta quarta-feira, 12, cerca de sete em cada dez eleitores lulistas (66%) discordam da frase do presidente, que afirmou que "os traficantes também são vítimas dos usuários".
A declaração foi feita durante viagem à Malásia, em encontro com o então presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. No total, 81% dos brasileiros discordam da afirmação, enquanto 14% concordam e 5% não souberam responder. A rejeição é expressiva inclusive entre segmentos próximos ao governo: 78% entre eleitores de esquerda não lulistas e 81% entre independentes.
A Quaest entrevistou presencialmente 2.004 brasileiros com 16 anos ou mais entre os dias 6 e 9 de novembro. O levantamento tem margem de erro de dois pontos percentuais, para mais ou para menos, e nível de confiança de 95%. A pesquisa foi realizada em meio à repercussão da megaoperação no Rio de Janeiro, que deixou 121 mortos — a mais letal da história do Estado — e reacendeu o debate sobre a política de segurança pública. A ação teve ampla aprovação popular: segundo a Quaest, 67% dos brasileiros disseram aprovar a operação, enquanto 25% a desaprovam e 8% não opinaram.
Na última terça-feira, 4, Lula voltou a tratar do tema e classificou como "desastrosa" a ação da polícia no Rio. A nova fala também foi mal recebida pela maioria da população, mas encontrou respaldo entre seus eleitores. De acordo com a Genial/Quaest, 57% dos brasileiros discordam da avaliação do presidente, enquanto 38% concordam e 5% não souberam responder.
Entre os lulistas, porém, 57% concordam com Lula e 38% discordam. O apoio à declaração também é majoritário entre eleitores de esquerda não lulistas (67%), mas minoritário entre independentes (38%) e quase inexistente entre eleitores da direita (15%) e bolsonaristas (19%).
A repercussão das falas e o avanço do debate sobre segurança pública se refletem nos índices gerais de aprovação do governo. A nova rodada da pesquisa Genial/Quaest mostra que o tema freou a recuperação de Lula: a desaprovação ao governo oscilou de 49% para 50%, enquanto a aprovação caiu de 48% para 47%, registrando a primeira oscilação negativa desde maio.
Na análise da gestão, a parcela que considera o governo positivo caiu de 33% para 31%, enquanto a avaliação negativa oscilou de 37% para 38%. Outros 28% avaliam o governo como regular. O desgaste ocorre em um momento em que a segurança pública voltou ao centro das preocupações dos brasileiros. A violência é citada por 38% dos entrevistados como o principal problema do País, alta em relação a outubro, quando o índice era de 30%. O resultado reforça a dificuldade do governo em manter apoio estável em um tema historicamente dominado pela oposição.