ONG critica gasto do governo Lula para transportar ex-primeira-dama do Peru
Transparência Internacional classifica operação da FAB como 'um dos episódios mais infames da história latino-americana' e questiona uso de recursos públicos para conceder asilo a Nadine Heredia
A Transparência Internacional criticou duramente a operação que trouxe a ex-primeira-dama do Peru, Nadine Heredia, ao Brasil, afirmando que a Força Aérea Brasileira (FAB) atuou como "piloto de fuga" e classificando o episódio como "um dos mais infames da história latino-americana". Segundo a entidade, a missão evidencia um problema regional mais amplo e acirra disputas políticas tanto no Peru quanto no Brasil.
A operação da FAB, realizada a pedido do presidente Luiz Inácio Lula da Silva após o governo conceder asilo humanitário a Nadine Heredia, custou R$ 345 mil. De acordo com o Palácio do Planalto, a autorização foi motivada por razões humanitárias, devido ao tratamento de câncer enfrentado pela ex-primeira-dama peruana.
"FAB se prestando ao papel de piloto de fuga da primeira-dama peruana condenada por corrupção, a mando do próprio chanceler Mauro Vieira e do presidente Lula, será lembrado como um dos episódios mais infames da história latino-americana. Desonra que o povo brasileiro não merecia", afirmou a Transparência Internacional em publicação na rede social X.
Os custos e detalhes do deslocamento foram obtidos pelo deputado Marcel van Hattem (Novo-RS), por meio de requerimento de informação ao Ministério da Defesa.
A aeronave utilizada, um jato E-135 Shuttle (VC-99C), partiu de Brasília rumo a Lima com paradas técnicas, acumulando R$ 318 mil em despesas logísticas, R$ 19 mil em taxas aeroportuárias e R$ 7,5 mil em diárias para a tripulação. Antes de ser transportada, Heredia buscou abrigo na Embaixada do Brasil em Lima logo após receber sua sentença e solicitou asilo diplomático. O salvo-conduto para sua saída foi emitido pelo governo peruano em coordenação com Brasília.
A defesa de Heredia e o governo brasileiro fundamentaram o pedido de asilo na Convenção de Caracas de 1954, que regula o asilo diplomático em países da América Latina. O tratado permite que Estados concedam proteção a pessoas sob risco de perseguição política, cabendo ao país asilante — neste caso, o Brasil — determinar a urgência e a necessidade da medida. Já o país territorial, o Peru, é responsável pela emissão do salvo-conduto. A defesa de Heredia traçou paralelos com processos da Operação Lava Jato, alegando motivações políticas no caso.
Nadine Heredia chegou a Brasília acompanhada do filho mais novo. Ela e o marido, o ex-presidente Ollanta Humala, foram condenados pela Justiça peruana por corrupção e lavagem de dinheiro em esquema envolvendo a Odebrecht (atual Novonor) e o financiamento ilegal de campanhas eleitorais — crimes classificados como comuns, e não políticos, pelas autoridades do Peru.