FRAUDE NO SUS

Escândalo na Saúde em hospital é revelado em reportagem que mostra sistema de privilégios que custa vidas

Por Redação Publicado em 30/07/2025 às 07:52

Uma grave denúncia que emergiu de um bate-boca na Câmara de Vereadores de Viçosa, e aprofundada por investigação jornalística, expõe um esquema de privilégios e tráfico de influência na saúde pública de Alagoas, que tem levado a um caos na saúde pública e, em muitos casos, à morte de cidadãos. A situação, revelada em reportagem do jornalista investigativo - Wadson Correia, indica que o Sistema Único de Saúde (SUS) no estado está sendo fraudado e usado como "moeda de troca política", em vez de servir a quem mais precisa.

O sistema denunciado compromete a vida dos alagoanos de forma devastadora:

* Mortes e Sofrimento por Falta de Acesso e Demora: Cidadãos estão morrendo à espera de vagas em Unidades de Terapia Intensiva (UTI) ou de atendimento emergencial, com relatos desesperados de falecimentos em UPAs. O caso de Dona Iraci da Conceição é emblemático: após um infarto, ela não conseguiu uma vaga de UTI a tempo e, mesmo quando uma vaga foi liberada, não havia ambulância para a transferência imediata. A família teve que recorrer a um transporte particular, mas já era tarde demais, e Dona Iraci faleceu. Outro caso é o de José Tomé da Silva, ex-servidor público em Palmeira dos Índios, que também não pôde ser salvo pelo sistema. Há ainda o drama de Mônica, que precisou usar o dinheiro do aluguel para pagar uma ambulância particular para a filha, enquanto ambulâncias novas e equipadas permanecem paradas, aguardando questões burocráticas como plotagem, emplacamento e seguro.

"Fura-filas" e Privilégios Político: O esquema permite que vereadores e cabos eleitorais tenham acesso prioritário a cirurgias e vagas no SUS, burlando a regulação oficial do sistema. Esse acesso privilegiado é frequentemente usado como "corrupção eleitoral", onde pacientes são instruídos a procurar políticos para conseguir procedimentos. O vereador Valério Passos aparece em uma lista de pessoas com prioridade na fila de regulação do SUS e é procurado por pacientes para conseguir autorização de procedimentos. A vereadora Rose do Iaí (YAI ATALAIA) também publicou em redes sociais como conseguiu cirurgia imediata para um paciente (Joel) por meio de Henrique Chicão, diretor do Hospital Carvalho Beltrão.

Manipulação de Dados e Violação de Leis

A Polícia Federal descobriu que o esquema envolvia a fraude na regulação do Ministério da Saúde, violando dados do SIS Reg (Sistema de Regulação), prejudicando milhares de pessoas que deveriam ser atendidas com base na necessidade e ordem cronológica. Esse sistema é uma clara afronta aos princípios constitucionais da administração pública, como legalidade, impessoalidade e moralidade, além de violar a lei de licitações ao não seguir a ordem cronológica de pagamentos. A Constituição Federal de 1988, em seu artigo 196, estabelece a saúde como um direito de todos e dever do Estado, o que é desrespeitado por este sistema.

Desvio e Má Alocação de Recursos Financeiros

O Hospital Carvalho Beltrão, um hospital particular de Coruripe que atende 95% pelo SUS, recebeu mais de R$32 milhões do governo de Alagoas de janeiro deste ano até o momento, R$30 milhões a mais que no mesmo período do ano anterior. O procurador do Ministério Público do Trabalho reconhece que o hospital é "extremamente privilegiado" nos repasses de créditos. Em contraste, outras instituições de saúde essenciais enfrentam a falta de repasse financeiro, levando ao fechamento de portas e interrupção de serviços. O Hospital Nossa Senhora da Guia, da Santa Casa de Maceió, chegou a fechar as portas por falta de repasse estadual. Em Arapiraca, a Maternidade Mãe Rainha e o Hospital Chama também correm risco de fechamento por falta de pagamento, o que resultaria na perda de quase 5.000 partos.

Quem se beneficia com o esquema denunciado no hospital de Coruripe

Os principais beneficiários desse esquema são:

* O Hospital Carvalho Beltrão e seu diretor, Henrique Chicão, que recebem repasses financeiros significativamente maiores do governo de Alagoas.
* Vereadores e cabos eleitorais, como Valério Passos e Rose do Iaí, que utilizam o acesso privilegiado a cirurgias como moeda de troca política e para obter favores eleitorais. Nomes como ILA (Irla) também são mencionados por terem "trazido 1428 procedimentos cirúrgicos" para o Hospital Carvalho Beltrão.
* Pessoas ligadas a políticos, que conseguem acesso prioritário a serviços de saúde, furando as filas do SUS.

A Denúncia e as Medidas

O esquema foi amplamente exposto pelo jornalista investigativo - Wadson Correia, que detalhou o funcionamento da fraude e o impacto na vida dos cidadãos. A Polícia Federal, o Ministério Público do Trabalho e vereadores como Roldão Correia também contribuíram para a denúncia e investigação.

Em resposta à gravidade das fraudes, o deputado Max Lemos apresentou no Congresso Nacional o Projeto de Lei 149 de 2025, que visa criminalizar a inserção, alteração e exclusão de dados do sistema de regulação do Ministério da Saúde (SIS Reg), com penas que podem chegar a 12 anos de prisão.

A Secretaria de Saúde de Alagoas, procurada pela reportagem, negou a existência de interferência política ou de cabos eleitorais na regulação. Sobre a falta de ambulâncias, afirmou contar com serviço terceirizado, e sobre as ambulâncias novas paradas, justificou que são do Ministério da Saúde e aguardam plotagem, emplacamento, chipagem e seguro. Em relação ao privilégio financeiro do Hospital Carvalho Beltrão, a secretaria alegou que o Ministério Público do Trabalho não tem competência para a questão.

A população de Alagoas, entretanto, continua a sofrer as consequências de um sistema que, segundo a denúncia, privilegia alguns em detrimento da vida de muitos.

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